domingo, 6 de julho de 2008

Sólua

Uma voz suave, grave, da prata da madrugada, é a que diz boa noite.

E aquela outra que quer dizer bom dia na manhã pelo ouro, e sair direto d´alma para os corações amados.

Os braços fortes, calorosos e atenciosos dos primeiros raios, são os que querem abraçar nas despedidas.

Nas desmesuras da sua intensidade querem acalentar este vazio orbitante.

Palavras que não são pelo dia soadas, porque expressam algo maior que simples dizíveis, tentam inutilmente surgir do astro através das nuvens, aflorando em falta de sentido, porque o sentido explica a razão, e não a pureza do coração.

E dentro pulsa um milhão de sentimentos vermelhos, agressivos por sua intensidade, e amarelos plumados pela nobre intenção.

É em cada pulsar que tal estrela irradia fervorosos pensamentos irracionais, que nos levam a viajar por essas constelações de possibilidades diárias e viver cada dia luminoso e aquecido por seus raios, sem que ao menos imaginemos a necessidade de encará-lo como um melhor amigo.

Presente mesmo quando não nos damos conta, sempre ancorando a vida ao seu alheio, provê-nos a graça das escolhas, inconscientes ao reconhecimento.

E ainda sim retorna contente ao horizonte, esperançoso por continuar em outra face seu labor natural, fluente, sereno, eficaz, triunfante, novamente vermelho, mas desta vez pelo abraço do adeus.

Responsabiliza agora, tão companheira donzela, que por dias e noites o acompanha, às vezes à frente, às vezes atrás, a regar suas sementes com os reflexos de seu brilho e decisões pelo dia feitos.

Como boa esposa cuida da prole inocente e inexperiente com outros raios, também quentes e maternais, como há de ser da anima da prata que brilha por si só, sem ao ouro refletir.

É durante as trevas que surge um único, o seu abraço, tão nobre quanto áureo, único em seu perfume de dama-da-noite, vistoso como uma begônia na lapela.

E com esse perfume silvo, colorido como o calor num dia gélido, aconchega seus descendentes ao leito caridoso e tranqüilo.

Aos poucos dormimos, ouvindo aquele cantarolar ninante, suave, grave, da prata da madrugada.

2 comentários:

Má Pinelli disse...

Cá estou eu de coração tocado!! E como não estaria, se com essas palavras amoleceria até o mais machão e tonto, quem dirá a mim, uma pobre moça de coração mole ;)
Bjss, da sua fã :D

Max disse...

O romance dos astros é coisa pra ler com o coração, talvez não tenha comentado até agora porque meu coração tenha estado por tempo demais fingindo dormir, com um olho aberto e outro fechado...
É um dos mais lindos poemas em prosa que eu já li. Parabéns! Tudo aquilo que você toca com as suas palavras, esteja certo, frutifica e dá bons frutos!