sexta-feira, 18 de julho de 2008

Conto 19

Tinha olhos encantadores, enfeitiçantes e mágicos. Cabelos longos e lisos, um corpo perfeito. Tipo Miss Venezuela que virou Universo, mas mais bem torneada... Muito vaidosa, sempre. Não deixava uma superficie refletora sequer passar despercebida por sua conferida estratégica, que sempre a mantinha elevada como linda, na boca dos admiradores. Tanto que às vezes até se hipnotizava com seu próprio narcisismo impensado. E quase repetia o descontrole de Narciso. Essa era uma das coisas que não queria pensar... mas tinha taaantas coisas ruins de pensar... pra que pensar essas coisas todas? Às vezes era uma simples nuvem escura que cobria seus pensamentos e deixava tudo embaçado. Dava pane em tudo e era muito mais fácil ignorar...

Ela sentia o cheiro empestiante, que nem estava mais lá, em seu travesseiro, à noite. Era dele. E como era bom... parecia baunilha com chocolate... que nem sua pele no sexo.
E o suor que escorria dele ditava delicadamente cada gemido e suspiro dela.
Assim, que nem o lençol se enrola no contorcer das pernas, suas mãos se estendiam umas às outras com ternura... e isso tudo saciava... completava, satisfazia de um jeito tão perfeito que arroz para feijão dava menos fome...

E comer era outro prazer maravilhoso dela... E com ele então! Ela gostava do jeito que era tratada no restaurante, sempre com educação, muito respeito e um toque sensível de compreensão, mas sempre com um ponto-de-vista crítico e construtivo, ou às vezes bobinho e ingênuo... E havia sim muita cordialidade na maneira como ele abria a porta do carro, e de como pedia algo a mais por ela.

Era por prazer, como se fosse pra ele mesmo, que ele fazia as coisas por ela. Ela sabia disso, mas ficava quieta por deixar aquela sensação acontecer sempre que fosse o momento, e achava insano o jeito todo que ele a envolvia... às vezes até se irritava com isso... mas ela se irritava com facilidade... achava que precisava ter mais paciência, e também que melhorar em outras coisas também, mas isso era nascido com ela já, como se fosse coisa de signo. E era! E no final, sabia tb que era pura bobagem essa historia de ficar 100% do tempo tentando melhorar... aquelas coisas de auto-ajuda: "Pare de pensar que precisa fazer, e faça!"

Não desconfiava que na verdade era maravilhosa, com virtudes e qualidades de dar inveja a qualquer pessoa, mesmo se tivesse nascido tão bela por fora. E ainda assim nasceu tão polida e delicada no externo... De pele gostosa, de proporções mais que áureas, de uma genética barbaramente admirável... mas não perdia por deixar esperar. Ainda se cuidava. Ficava desesperada qdo não tinha seu protetor-solar ou um batonzinho pros lábios...

Ok, ok, voce pode pensar que isso tudo é opinião minha, parcial, que essas coisas dependem de quem olha e tal... e que eu conheço bem o casal e que tenho uma fixação por ela também, de uma certa maneira. E isto não está errado. Está apenas mal-interpretado. Porque quem me contou isso tudo, que parece ser opinião minha, foi a própria personagem da história, ao longo de muito tempo, esse conto-de-fadas ainda sem um "viveram felizes para sempre".
E ela ainda tem aqueles sentimentos apertados dentro do peito, que não sabe se quer ou não esse fim.

- Do livro "O contador de histórias"

Um comentário:

Max disse...

Amei o conto, mas só tenho uma palavra nesse momento: BIZARRO!!!