terça-feira, 29 de dezembro de 2009

Apêndices articulados

"Os insetos possuem uma característica que os diferencia de outros animais... o de mudar de exoesqueleto de quitina, num processo chamado ecdise, ou muda, para poder crescer em volume corporal. Na verdade os artrópodes, dentre todos os filos, que o fazem. Soltam aquela "casca" já endurecida pelo tempo pela própria pressão interna a ela do novo volume do corpo do animal. Suas partes moles continuamente crescem, mas podem sofrer um retardo aparente dessa nova dimensão justamente por estarem dentro de um compartimento menor que seu conteúdo, deixando-as apertadas.

Ao atingir o limite de pressão, a ecdise se inicia com o rompimento da ecsúvia(o próprio exoesqueleto), geralmente na parte dorsal. Às vezes tal pressão é tamanha que nota-se o rompimento em mais do que uma única fenda. Desta forma, o ser espreita-se em meio à abertura espiando o mundo aqui fora com seu corpo crescido, mais vistoso, nas melhores condições de aumento, corajosamente desbravando o desafio de encarar o mesmo mundo antigo de forma diferente, mas desta vez com um corpo vulnerável. Suscetível ao mundo, por ter recentemente se libertado do modelo protetor e rijo, que o abrigava mas também impedia o crescer, porta agora seu novíssimo exoesqueleto maleável, como a pele de um bebê que ainda tem muito por esticar. Conhece os novos perigos e adapta-se às novas afrontas de forma que a circunstância define o modo de viver e a novidade ensina novos comportamentos.
O ser cresce. Por fora em tamanho, por dentro em experiência. Aprende, aumenta, melhora, vive.

Com o tempo, as necessidades vão mudando. Não há mais um esqueleto externo tão frágil, pois o que era pele nova se endureceu e protege mais, contra qualquer coisa menos ofensiva. Esse enrijecimento novamente protege o ser, mas agora em nova dimensão. De antes para cá, o ser é outro, aumentado, e com novo repertório de experiências. O processo de modelagem, em que um erro poderia significar a morte, também deu forma e solidez ao envoltório do ser, que agora o prende a um novo limite de tamanho. De certa forma cômodo pela segurança da situação , de certa forma apertado pela nova necessidade de expansão, começa a se sentir velho em um modelo que fora novo. Entedia-se com o costume do tamanho limitado de sua nova casa. Chateia-se com as mesmas circunstâncias repetitivas e ciclos diários. Sente que uma mudança poderia ser bom, e com tal novo tamanho já se apertando novamente em sua ecsúvia, reinicia o processo de mudança.

Assim seguem até seus últimos dias, sempre buscando novidades no mesmo processo monótono de ecdises.



Acho que no final, em termos de processos, de funções, de experiências, aprendizados, comportamentos, crescimentos, os nomes: ecdise, artrópodes, ecsúvia, etc... - são realmente importantes para diferenciar os filos...

...mas só os nomes o fazem!"