sexta-feira, 27 de março de 2009

Interprete-à-porter

Com gente conversando,
e sem ninguém pensando.
Andando não tropeçando,
e correndo sem esperar.

Vírgulas do poder,
Frases que podem tudo!

Com gente, conversando.
E sem ninguém, pensando.
Andando, não tropeçando.
E correndo, sem esperar.

Vírgulas, do poder.
Frases, que podem tudo!

terça-feira, 17 de março de 2009

Descrição

Falar com as paredes provavelmente não vai ajudar em nada. Olhar o teto de um quarto qualquer, sem propriamente vê-lo, também não. As pessoas falam e você ouve, ou tenta, mas também é um tanto inútil esse esforço de se manter conectado com a realidade.
Tenta-se deixar os pés no chão, como se isso fosse resolver algum acontecimento que pode ter mudado tudo. As palavras ressoam como se a cabeça fosse vazia, e vão minguando como se se dispersassem em si mesmas. A mente, cheia de nada diferente do que só um pensamento, que mais se assemelha a sentimento do que razão, fica extasiada de um tepidor estranho, anestesiante. Não mais tem o controle sobre o que chega a você. Algumas coisas se passam totalmente em vão e outras em muito mais detalhes do que se imaginava. Os dias se seguem em um contínuo diferente, numa situação ímpar e nova, totalmente abstrata ao conceito de "seguinte".
Tudo é sempre inesperado, uma surpresa. E a previsão pode ficar ofuscada pelo passado recente, que muito é importante para o momento atual. Quando se torna possível, talvez se ouça um tipo de música diferente das folhas das árvores das pessoas. Folhas mais reais, algumas mais secas, e outras mais novas. Muitas folhas e muitas notas. Folhas também de páginas dos livros dessas pessoas, que pouco são lidas ou sequer folheadas. Todos contém mais notas e histórias do que se supõe e ninguém possui um livro vazio. E isso vale a pena também, como o passado recente das folhas, porque um livro vazio só se tem na cabeça quando não se consegue ter a noção no momento em que isso tudo acontece.
Muito é conversado com as pessoas, pouco é concluído. Dificilmente se vê os porquês, ou como aconteceram.
Imagino que há uma semelhança muito grande em dois sentimentos muito diferentes, tão afastados, mas que as vezes podem se entrelaçar, ou jamais se aproximar. Eles podem ser interpretados de várias formas para as pessoas, mas cada um acha as suas palavras para ambos, amor e dor.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Depois das camas

Todos os dias, no mesmo horário, os ônibus começam a circular pela minha rua, o som ao longe de uma sirene toca, e quase ao mesmo tempo alguns pombos fazem barulhos na minha janela. Levanto da cama no horário que preciso em cada dia, e olho para fora, para esta praça tão verde e cheia de vida. Muitos pedestres atravessando-a, pelo simples fato de ser mais agradável do que simplesmente beirá-la por uma das quatro calçadas...
Em alguns momentos, esse conforto de saber exatamente a ordem em que as coisas fora de mim acontecem e quando vão acontecer, é tranquilizador e pacífico, não possibilitando riscos desnecessários ou imprevistos não tão bem-vindos. Tudo parece muito fácil. Como quando a gente mata saudades de alguém muito querido, com quem se dá bem desde sempre e as afinidades nunca cessam.

E dentro vive um sentimento constante de vontade de mudança, por várias razões, de coisas que faço, e de reações que tenho. Algumas insatisfações, muitas cobranças, exigências necessárias para o meu momento. E esse instante é sempre diferente mas, por mais impressionante que isso sempre seja, bom no final das contas. Dessas vontades de mudança eu tento o meu melhor, e consigo muitas coisas, muitas mesmo. Coisas que não imaginaria jamais em querer ter e que acabam acontecendo por si só, como efeito colateral da iniciativa que tive.
Na última vez que me firmei nas opiniões solitárias às quais cheguei, descobri alguns excelentes amigos.
Na última chance que tive de expressar meus sentimentos de gostar e querer bem, de me importar com alguém, ganhei a exclusividade de ficar só.
Na última vez que tentei fazer alguma coisa sem sentido, consegui encontrar respostas às quais não sabia ter perguntas.

Essa mudança toda, essa fluidez da dinâmica da vida, que acontece muito aqui dentro, depende somente de mim, e não tenho intenção de parar. Apenas de continuar com essa metamorfose nos mais diferentes aspectos, quebrando paradigmas e limites, que antes eu achava serem imposições à perfeição. Mas hoje eu sei que o que busco não tem nome, e se alguém achar que tem, está errado. Nem mesmo eu sei o que é. Mas sei que não é perfeição. (Perfeição é sinônimo de não haver defeito, logo, de não haver mudança para aprimorar, o que pra mim é a morte do desafio de viver, eca!)

Todos os dias, no mesmo horário, os ônibus, os sons, os pombos, a praça e as pessoas.

Como é bom olhar pra isso todo dia e ser capaz de ter olhos diferentes para as mesmas coisas, mesmas pessoas, mesmas situações!
Como é bom não esperar a sequência das coisas, nem o tempo delas!