sábado, 6 de dezembro de 2014

Sou um bom amigo da Solidão


Faço longas caminhadas com ela e deixo que se sente ao meu lado enquanto leio. Às vezes me visita, inesperada, mas ainda abro as portas e a ofereço um chá. Imagino que deva ser sozinha também.

Imagino às vezes se não estou sendo muito bonzinho – deixando ocupar muito espaço para ela, oferecendo o meu tapete de Yoga quando mal há espaço para mim mesmo. Seria essa uma amizade de mão-única sem reciprocidade, me pergunto.

Solidão, como qualquer outro sentimento, aparece por um tempo carregando uma mensagem. Está dizendo para prestarmos atenção, porque algo está se escondendo sob todas as facetas da nossa vida. É uma bússola mostrando o que precisa ser atendido, o que está machucando.

Quando nós a seguimos, descobrimos que nos leva a verdades que muitas vezes não queremos encarar. É fácil varrê-la para baixo do tapete, negar, e continuar com nossas tarefas. A vida nos mantém ocupados, as distrações são abundantes, e outras pessoas e situações roubam nossa atenção. Mas a solidão retorna, nos amedrontando nas esquinas do dia-a-dia, o silêncio entre os ruídos, a pausa momentânea de nossa rotina diária.

O que há do outro lado da solidão quando paramos para olhar para dentro? O que está querendo dizer?

Se a solidão pudesse falar, acho que diria: “você não está sozinho”.

Irônico, eu sei.

Mas estar sozinho é um prelúdio à realização de que é parte de algo maior. Na verdade, uma parte essencial. São nas horas solitárias que encaramos o nosso mais verdadeiro “eu”, nossos mais profundos desejos, e dores que mais nos consomem. É aí que somos forçados a parar de resistir, se realmente queremos mudar, e permitir, seja lá o que precisar ser curado, a começar a se curar.

A solidão graciosamente procura nos compelir ao isolamento que deve nos trazer de volta ao nosso “eu” autêntico e trazer nossa essência à luz. A solidão nos oferta a distância de todas as vozes ao nosso redor, e nos permite encontrar a nossa própria.

Através deste processo dinâmico nos voltamos desse outro lado munidos com um entendimento extremo de nós mesmos e nossa relação com o resto do mundo. Comumente essa experiência reveladora provoca em nós o desejo de compartilhar, de apoiar os outros e contribuir com algo bom, com o conhecimento que ganhamos. Há motivo melhor para a iluminação do que este?

Da próxima vez que a solidão vier bater à sua porta, não a mande embora tão rapidamente. Pode nem sempre ser bem-vinda, mas como a canção de Natalie Merchant, “Kind & Generous”, você pode se ver do outro lado, algum dia, dizendo: “Estou pronto para te agradecer”.

O que está do outro lado da solidão?

Tudo.



Autora: Anokina Shahbaz
Editor: Cat Beekmans
Fonte: http://www.elephantjournal.com/2014/12/the-other-side-of-loneliness/

Tradução livre: Vitor Sanchez



quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Procurando

Onde está você?

Não importa o quanto eu busque, não importa o quanto minha alma queira, não te encontro.
Seja no espelho, ao meu lado, ou do outro lado da cama.
Num passado recente, ou distante.
Você não está lá.
Não está na primeira, nem na segunda, nem na última namorada.
Procuro e não te encontro na amizade sincera da mulher bonita que se diz interessada num almoço de terça-feira de folga do trabalho.
Olho atento na tela do skype mas... não sei, não é você.
Perco o copo no gole, olhando pra fora da janela, e perco o brilho dos carros imaginando por onde estarão seus pés agora, pisando em qual chão, ou escada, ou pedal de freio, ou sandálias de couro, areia da praia, ou na trilha de neve, ou até quem sabe balançante no ar?
Acompanhado? Sim, eu queria. Possível? Mas como, se não encontro você? Eu queria...
O que quero é tua companhia. Quero teu sossego. Quero teu abraço e tua presença sem falar muito, Ou falando muito sobre o seu dia, seus amigos, família, ou qualquer coisa... e me perguntando de volta como estou e como foi o meu dia. Me instigando a falar de mim, por estar interessada em mim e em meus sentimentos, de verdade.
No momento dos sonhos, você está lá, linda, correndo comigo, no campo dourado, de faixa no cabelo e vestido azul. Daí acordo e.... pra onde você foi?
No café da manhã? Não. Só a xícara de café amargo, pra adoçar o dia.
No furor da tarde encontro apenas obrigações e prazeres, sem muito espaço para pensar ou sentir.
E chega a noite do final-de-semana brincalhão!
Num barzinho? Cadê? Escondida na imagem distorcida do canecão de cerveja? Não vi, bebi.
É, fugiu de novo.

Virou noiva de alguém. Quis ficar sozinha pra se conhecer melhor. Saiu com as amigas pra fofocar a vida alheia. Ou foi chorar em depressão no travesseiro até pegar no sono por não saber o que quer. Me conheceu achando ser o certo sem estar no momento certo. Acho que era demais ou de menos. Gostou mais ou gostou menos. Se interessou por outro desconhecido e partiu. Me viu, se interessou, me conheceu e sumiu da noite pro dia. Não gostou de alguma mania minha e se perdeu com a opinião dos outros. Quis que eu seguisse algo que não acredito e não suportou a dor de uma única diferença.
Estas não são você.

Onde está você?

domingo, 9 de setembro de 2012

O dia de hoje

Hoje é um ótimo dia para escrever um obituário.
Ar parado. Tempo quente. Sons distantes. Pessoas próximas distantes e as distantes mais distantes ainda. Quietude da alma. Invencibilidade.
Um equilíbrio retomado como se nunca tivesse atingido esse ponto antes, pseudo-falso. Assim como a loucura da loucura que quase nos deixa normais de novo...
Não há volta. Não há reviver.
O tempo só vai. O tempo só, vai.
E a sensação de tudo que queria ter feito fica mais viva do que de tudo que de fato fiz. E o que fiz fica como lembrança perdida esvanecendo na tepidez da memória.
Cada agora é pra ser agora. Não serve para amanhã ou para ontem. O ontem serve ao agora. O amanhã serve ao agora. Porque o próprio a si não serviria?
Hoje é um bom dia pra se escrever um obituário. Obituário do agora, do hoje, obituário do corrente, do que acaba por ser o agora a cada instante, e que se vai para sempre, na morte eterna para que o próximo chegue, sempre como sempre faz.
Cada instante abre o próximo e se fecha em cortesia a este que o segue.
Tudo que acaba começa algo em seu lugar.

Te vejo do outro lado, certo?
Até o próximo texto



terça-feira, 4 de setembro de 2012

Passo marcado

Na escuridão de meus pensamentos serpenteia uma lembrança de uma noite fria, azul e impalpável. Como se fosse uma névoa preenchida com murmúrios gelados de uma palavra ríspida, sigilosa.
Noite seguinte ao crepitar das velas que apaguei após um vinho degustar só para ponderar sem emoção o que tanto necessitava discernir. Dividir as coisas entre cabeça e coração, taça e vinho, pavio e vela, faísca e cinza.
Não entendo essa necessidade sua do distante.
Não entendo essa forma estranha de passar.
Não quero entender como pode ser tão independente de mim, tempo.

quinta-feira, 8 de março de 2012

Dor conta!

Sentimos...
Me sinto só,
sem tinos.
Sem ti, nós!