Faço longas caminhadas com ela e deixo que se sente ao meu lado enquanto leio. Às vezes me visita, inesperada, mas ainda abro as portas e a ofereço um chá. Imagino que deva ser sozinha também.
Imagino às vezes se não estou sendo muito
bonzinho – deixando ocupar muito espaço para ela, oferecendo o meu tapete de
Yoga quando mal há espaço para mim mesmo. Seria essa uma amizade de mão-única sem reciprocidade, me pergunto.
Solidão, como qualquer outro sentimento,
aparece por um tempo carregando uma mensagem. Está dizendo para prestarmos
atenção, porque algo está se escondendo sob todas as facetas da nossa vida. É
uma bússola mostrando o que precisa ser atendido, o que está machucando.
Quando nós a seguimos, descobrimos que nos
leva a verdades que muitas vezes não queremos encarar. É fácil varrê-la para
baixo do tapete, negar, e continuar com nossas tarefas. A vida nos mantém
ocupados, as distrações são abundantes, e outras pessoas e situações roubam
nossa atenção. Mas a solidão retorna, nos amedrontando nas esquinas do
dia-a-dia, o silêncio entre os ruídos, a pausa momentânea de nossa rotina
diária.
O que há do outro lado da solidão quando
paramos para olhar para dentro? O que está querendo dizer?
Se a solidão pudesse falar, acho que diria:
“você não está sozinho”.
Irônico, eu sei.
Mas estar sozinho é um prelúdio à realização
de que é parte de algo maior. Na verdade, uma parte essencial. São nas horas
solitárias que encaramos o nosso mais verdadeiro “eu”, nossos mais profundos
desejos, e dores que mais nos consomem. É aí que somos forçados a parar de resistir, se realmente queremos mudar,
e permitir, seja lá o que precisar ser curado, a começar a se curar.
A solidão graciosamente procura nos compelir
ao isolamento que deve nos trazer de volta ao nosso “eu” autêntico e trazer
nossa essência à luz. A solidão nos oferta a distância de todas as vozes ao
nosso redor, e nos permite encontrar a nossa própria.
Através deste processo dinâmico nos voltamos
desse outro lado munidos com um entendimento extremo de nós mesmos e nossa
relação com o resto do mundo. Comumente essa experiência reveladora provoca em
nós o desejo de compartilhar, de apoiar os outros e contribuir com algo bom,
com o conhecimento que ganhamos. Há motivo melhor para a iluminação do que este?
Da próxima vez que a solidão vier bater à sua
porta, não a mande embora tão rapidamente. Pode nem sempre ser bem-vinda, mas
como a canção de Natalie Merchant, “Kind & Generous”, você pode se ver do
outro lado, algum dia, dizendo: “Estou pronto para te agradecer”.
O que está do outro lado da solidão?
Tudo.
Autora: Anokina Shahbaz
Editor: Cat Beekmans
Fonte:
http://www.elephantjournal.com/2014/12/the-other-side-of-loneliness/
Tradução livre: Vitor Sanchez