domingo, 26 de outubro de 2008

Viva!!

Sabe quando a vida te trás uma chance e percebe ela mesma se desfazendo sem estar ao teu alcance? Quando cansa de esticar os braços em meio ao escuro procurando por respostas, ou palavras? Tudo ecoa sem som. O peito quer dar mais braço ao alcance e o suor te mostra a inutilidade do debater. Se sente num cair pra dentro. Não resisto. Não desisto. Apenas fico ali, observando o momento em que estou. E sentindo aquele momento como uno e novo.
Deixo meu corpo parar, e olho à frente, aonde os olhos não enxergam.

Existe o medo. Coexiste a coragem.

Não há mais ar, nem respiração. Não há pulsar, nem sangue. Nem luz ou olhos. Sequer tato ou corpo. Desaparece o pensar e o sentir. Foge a vida e a vontade. O sentido se esvai e tudo de antes te atravessa a alma. Por ti o tempo flui.
Tudo pára.

...

Aí acorda e olha pro teto verde. Luzes e pequenos sons. Eles aumentam e o teto diminui. O peito batido dói e o corpo endurece. A coragem volta e o medo some. O alcance não é mais necessário e a humildade toma lugar. O desapegar faz sentido. Uma luta transparece em cada olhar cego. Vontades se concretizam em cada segundo. Memórias são um quebra-cabeça de infinitas peças, sem bordas. As últimas peças não são conhecidas e faltam.

...

Os parâmetros mudam e não é mais fácil e automático respirar. Levantar-se parece impossível e fatal. Olhar para os lados, não dá mais. Alimentar-se normalmente, não dá mais. Ir ao banheiro, não dá mais. Para coçar a perna, precisa de ajuda. Para escovar os dentes precisa de alguém. Para ligar pra alguém, precisa pedir. Ver o sol, só pela janela, e pela pele. Ficar inconformado não é opção... é ser vencido. Um simples assobiar cansa mais que correr uma maratona. Não tentar nada te definha até pelo cabelo que cai. A pele rasgada e furada não dói.

...

Com o tempo descobre que um cheiro pode ser tão grande quanto uma viagem à praia. E também que muitos sons ignorados todos os dias são ricos em preencher os ouvidos. Que cócegas, arrepios, calor e frio, pressão e dor, são todas um tipo de carinho das situações. As cores\brilhos\tons têm vida própria e se instalam em lugares inusitados. As texturas e sabores se orgulham de estar na boca. Sentir paixão ou amor é simples e fácil e que são tão importantes quanto a raiva. Que ouvir as respostas das perguntas é mais importante do que ter respostas para as perguntas. O alcance não depende do braço e sim da intenção e da vontade. Cada músculo e osso que mexe tem um propósito que merece ser digno. Que há mais coisas que seu corpo pode perceber. Que as pessoas tem amor e carinho e não sabem deixar isso se manifestar de forma alguma. Que todos precisam de muitas coisas que não são reais. Que a maioria não sabe do que precisa. Que a vida vai passando e que fazer a diferença em algum momento pode te recompensar eternamente. Que nada é tão difícil quanto parece.

...

Limpa todo o seu repertório de valores e reconstrói com calma e sensatez. Não desiste. Não pára. Não sofre. Não se perde.

∞ Vive! ∞

quarta-feira, 15 de outubro de 2008

Entenda

Força do homem não se dá pelo forte que se bate.
Isto é capacidade.
Força é medida da intensidade que sabe precisar bater.

Fidelidade do homem não é o quanto ele não trai.
Isto é insistência.
Fidelidade é quanto sabe que valem os próprios sentimentos antes de qualquer ação.

Fome não é o quanto se quer comer para ficar satisfeito.
Isto é ansiedade.
Fome é quanto precisa comer para viver bem.

Felicidade não é só sorrir e nunca ficar triste.
Isto é conto-de-fada.
Felicidade é saber que a tristeza é tão importante quanto ela e que coexistem.

Falar não é abrir a boca e deixar os sons saírem.
Isto é gritar.
Falar é abrir a boca do coração e deixar a mente proferir.

Grande inspirador:

domingo, 12 de outubro de 2008

Idas



Chorei de rir
Felicidades tais
Dia partiram
Aqui do cais

Vi um navio
Longe, distante
Pensei num dia
Demais abençoante

Dias seguintes
Sem choro ou mágoa
Sequer uma gota
Aumenta água

Mar separa o tempo
Vazio do ido
Tal qual convés
Peito aborrido

Adeus sereno
Parte navio
Defronta de novo
Mar bravio

Areia meus pés
Gigante grão
Sólido apoio
Tristeza não

Ar minhas mãos
Brisa se solta
Arma do hoje
Ao peito envolta

Fase

Dei-lhe a mão. Levantou, partiu.

Fitava o peito ensangüentado, manchado com uma camiseta branca.
O fosco ressaltava nos olhos fundos.
Aquele espelho parecia trincado.
O cinza predominava o céu mais azul que um dia já teve.
Tanta era a solidão que senti minha presença como nunca. Criança no escuro.
A sede e a fome não importavam, eram de menos.
Somente recordava e não era suficiente, parecia estar sem tempo.

Deitei, acalentei, dormi.

Sonhava mundos mágicos, sem dores pra todos.
Desejava tangos alegres e tecidos esvoaçantes.
Previa sóis vindouros mornos e brilhantes.
Pensava em risos cheios.
Tudo se bastava como era.

Deixei, acordei, segui.

Ainda sonho.
Ainda desejo.
Ainda prevejo.
Ainda penso.
Basta.

segunda-feira, 6 de outubro de 2008

Conto 08

O fruto daquela árvore agora jaz ao chão.

Há apenas minutos atrás esse fruto pendia ainda brilhoso na ponta mais saliente do galho principal ostentando um orgulho rubro e sadio, que transparecia o crescer da própria árvore.
Crescera despretensiosamente, no ritmo calmo com que as nuvens passam ao céu. Fortalecera-se ao sol e vento que bateram aos seus contornos... Subira à maioridade pela maturidade do desenvolver do galho. E esse galho não era de uma só planta.

Ao início eram duas sementes. Uma aqui, outra logo ali. Eram um pedacinho daquelas outras duas árvores um pouco mais separadas pelo gramado da vida. Uma de flores violetas douradas, outra de flores brancas prateadas. Cada semente viera de cada um daqueles seres, e depositaram-se ao comum interesse do solo fértil. E muito próximas germinaram sem competir, com raízes que se enterraram entrelaçadas para buscar sustento e a outra parte delas se espalharam ao solo divergindo à outra germinação, para não tirar os nutrientes do solo de sua parceira.

Acima da terra criaram juntas um único caule firme, pois apesar de buscarem o sol, assim se uniram, enroladas, para se apoiarem. Afinal, sozinhos dobramos mais facilmente ao vento.
As primeiras folhas nasceram, que alegria! E começaram a gozar do alimento daquela união... E saciaram juntas as suas fomes e vontades de crescer, ainda tendo total compreensão de que sua existência naquele momento se fizera mais forte por causa da outra. E uma à outra apoiada, resistiram às intempéries. Estavam vivas juntas.

Atingiram uma fase de estabilidade vital na qual lutar pela sobrevivência naquele mutualismo não era mais preocupante, haviam outras questões mais importantes! E começaram a germinar pequenas e delicadas flores, com as duas cores, violetas douradas e brancas prateadas, como se fossem uma planta só. Espalhavam-se ao longo de toda enorme copa e forraram todo o contorno.
E com elas atraíram magníficos seres alados ainda virgens que de várias de suas flores se alimentaram, trocando sutilmente o seus íntimos pólens.

Ao passar de pouco tempo o primeiro e uno fruto começou a se desenvolver no galho pivô desse quase-um ser. E carnudo e suculento se tornou. Era a aceitação mútua de ambas plantas pela outra. A instância máxima que se permitia naquele ciclo. Era o que geravam juntas com todas as suas forças naturais e espontâneas.

Muito surpreendeu esse fruto ao subitamente fraquejar. Uma das duas plantas alcançara com sua raiz algo profundo ao chão, depressivo e destrutivo, e adoeceu. Não pudera fazer muito mais pelo fruto, vez que sua vontade se voltara às raízes. A outra porém, sabia que o fruto fora gerado e cuidado por ambas e que como resultado de um esforço conjunto, não haveria sentido cuidar sozinha agora. Deixou que a adoecida planta soltasse o fruto ao chão, na tentativa de possibilitar a recuperação da outrora vitalidade da qual prezava.

O fruto daquela árvore agora jaz ao chão.


Quem sabe o que poderia acontecer a esse fruto? Quem sabe talvez, esse fruto se desfizesse e revelasse uma forte e sadia semente? Ou quem sabe se uma chuva de verão não lavasse esse fruto embora? Ou ainda se não houvesse semente nenhuma dentro do fruto?
...
Essas respostas não devemos querer saber, devemos ver com o tempo inesperado.



- Do livro "O Contador de Histórias"

quinta-feira, 2 de outubro de 2008

Filme: P.S. Eu te amo




Escrever sobre esse filme, é deixar meu sentimento falar assim:


"Mas que droga, to aqui suando a frio outra vez.
Só nessa semana já é a quinta vez pelo menos.
Não quero ir à esse funeral. Mesmo que seja num bar, com os amigos.
Eu fico assim, me revirando quando me viro pra te procurar. Olhando o travesseiro vazio na hora de apagar a luz. Ouvindo aquele violão tocar na sala e adormeço no sofá... Não quero sair de casa.
Cortar o meu cabelo, usar meu melhor perfume, vestir minha roupa mais bonita não tem graça mais. Conversar com as pessoas se tornou algo estranho porque quando eu falo parece que não tem ninguém por trás da minha boca. Prefiro ficar em casa, tentando viver a vida de outra pessoa, pela TV e por uma garrafa de qualquer-coisa-alcoólica. E quando minha família chega, me choco por ter que sair desse casulo quentinho que me protege do mundo real lá de fora.

Os dias passam e alguns sentimentos brigam dentro de mim. Culpa por ter feito alguma coisa errada, saudade por ter feito tudo o mais certo que pude. Orgulho de ter sido tão natural e ter gozado da minha espontaneidade. Tristeza por termos tido algumas diferenças. Vou fazendo minhas coisas como se recebesse cartas suas me dizendo o que fazer para chegar a uma grande surpresa que me espera no final.

Tudo o que quero é poder reviver alguns momentos bons que tive, com uma intensidade que me faz crer que é real outra vez. Que a minha vida pare por todos os instantes que eu não tiver aquele teu cheiro e aquela tua voz, se eu não morder tua bochecha ou tua boca, se não te aquecer no 'dormir de conchinha', ou te arrumar mais um apelido carinhoso.

Outros dias passam e ainda espero pelo seu retorno, na dúvida se voce se foi mesmo. As pessoas ao meu redor tentam me animar, tentam me fazer sentir melhor. Tentam me ajudar a superar isso tudo. Não tenho a certeza de que estou mal. Acho que só estou me acostumando com esse novo jeito de viver, me dedicando à minha profissão, visitando minha família, fazendo coisas que eram as mesmas quando com voce, mas que agora não são da mesma forma."

O filme também conta com uma trilha sonora excelente e especialmente com essa música do The Pogues. Coloquei a tradução dela aqui...


Love You ´Till The End
(Eu Te Amo Até O Fim)


Eu só quero ver você
Quando você estiver sozinha
Gostaria apenas de ter você se eu puder
Eu só quero estar lá
Quando a luz da manhã explode
No seu rosto, que se irradia
Eu não posso escapar
Eu te amo até o fim

Quero apenas dizer-lhe nada
Do que você não quer ouvir
Tudo o que eu quero, é para você dizer
Por que você não me leva
Para onde eu nunca estive antes
Eu sei que você quer me ouvir
Prender meu fôlego
Eu te amo até o fim

Só quero estar lá
Quando estivermos presos na chuva
Eu só quero ver você rir, não chorar
Eu só quero te sentir
Quando a noite colocar seu disfarce
Estou sem palavras, não me diga
Porque é tudo o que consigo dizer
Eu te amo até o fim

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É o fim, só não sei quando ele acaba.