domingo, 12 de outubro de 2008

Fase

Dei-lhe a mão. Levantou, partiu.

Fitava o peito ensangüentado, manchado com uma camiseta branca.
O fosco ressaltava nos olhos fundos.
Aquele espelho parecia trincado.
O cinza predominava o céu mais azul que um dia já teve.
Tanta era a solidão que senti minha presença como nunca. Criança no escuro.
A sede e a fome não importavam, eram de menos.
Somente recordava e não era suficiente, parecia estar sem tempo.

Deitei, acalentei, dormi.

Sonhava mundos mágicos, sem dores pra todos.
Desejava tangos alegres e tecidos esvoaçantes.
Previa sóis vindouros mornos e brilhantes.
Pensava em risos cheios.
Tudo se bastava como era.

Deixei, acordei, segui.

Ainda sonho.
Ainda desejo.
Ainda prevejo.
Ainda penso.
Basta.

2 comentários:

Max disse...

Veio uma angústia quando eu li isso ontem. Uma angústia, um sorriso e uma lágrima.
Eu não entendo. Não consegui entender até agora. Já li e reli umas boas vezes e, mesmo assim, não entendo. Talvez precise de mais tempo, talvez eu não esteja preparado, talvez não seja pra entender e sim pra sentir.

Acho que só o que vai acontecer é que eu vou continuar sentindo, acumulando sentimento, mais e mais, até a coisa toda não caber mais no peito e eu rir um "riso cheio" ou chorar loucamente pra expressar essas sensações contidas.
Nesse instante, agora ou futuro, tudo se basta como é. Valeu por compartilhar esse texto, é lindo.

Ilana Kenne disse...

Max, acho que a gente só entende mesmo as coisas quando se identifica com elas. É por isso que eu acho que poesia não é única, ela tem todos os sentidos possíveis. Tem o sentido que fizer sentido pra ti. Se não tiver, não é uma poesia pra ti.

Demais, Vi. Construção, estética, conteúdo, palavras. E o sentido que fez pra mim... Demais.