terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

"Para minha Julieta:

Em solidão mais profunda, encontras a ti mesma, completamente encaixada à multidão de pessoas de cabresto n'alma, fitando o céu, sonhando a terra.
Olhas a estrela que mais chama tua vaga atenção, por o brilho ser maior e porque não gostas de gostar do que gostam, e olhas àquela outra que possui um cintilar de rubro diferente. Surpreende a ti saberes que muita gente isso o faz, e que nem mesmo com a gente infinita há tamanha quantia a tantas estrelas.
Haverá sempre uma estrela para cada um dos teus olhares. Cada maneira de olhar será preenchida. A característica mais realçada dos teus olhos, naquele primeiro momento em que saem do horizonte e percorrem todo o trajeto até encontrar a luz certeira, será guardada na mente pelo coração, com sua valsa, perfume e alegria que por ora desconhecidos pra nós o são.
Talvez se por conseguinte um dia, o dia for feito, este conhecer do um ao outro existirá como em história já se fez.
Até o sagrado instante em que tal guinada ocorrer, para um dos lados, árduos um ao outro, resta às virtudes a espera. Inquieta. Real. Perdida em algum vazio do céu.

Com Amor,
teu Romeu"

-Conto 03 Do livro "O Contador de Histórias"

quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Ordinário

Retesava o braço direito em direção ao despertador e não o alcançava.
Separado da palma da mão por apenas míseros centímetros inesticáveis, aquele aparelho certamente se classificava como perturbador de um sono profundo. Descanso merecido de um corpo cansado, da mente agitada.
Sentou na beirada esquerda da cama, como quem procura equilíbrio nas coisas, por ser destro. Alongou seu pescoço , rodando-o para um lado, após o outro, algumas vezes. Esticou os membros com força, como um cão se espreguiçando. Renovou suas forças mentalmente, prometendo cumprir mais aquele entre-noites cheio de grandes afazeres e pequenos prazeres. Ao se levantar, perdeu a esperança latejante de dormir mais cinco minutos. Ao banheiro olhou-se no espelho e julgou a aparência da outra face, atrás da parede. Tomou seu banho, vestiu-se e saiu pela porta da frente de sua residência.
À rua fez passos como os de sempre, largos e calmos, com pressa e sem desespero. Foi ao banco pagar algumas contas como luz e telefone... Na fila ligou para sua irmã mais velha, para que ela ligasse de volta para ele, já que não tinha muitos créditos para ficar ligando assim... bateu um papo despretensioso e familiar, combinou um encontro num café no dia seguinte, para matar as saudades. Encaminhou-se ao consultório odontológico onde tinha hora marcada pra dali vinte minutos, e sentou-se para esperar outros quarenta ao chegar. Foi atendido durante trinta. Outros dez para pagar a conta e marcar o retorno com o raio-x panorâmico que foi tirado a seguir. Do laboratório de diagnóstico de imagens diretamente foi ao almoço, ainda num horário cedo, para quem almoça com a família no meio da tarde do final de semana. Lembrou-se de ligar ao amigo que estava preocupado com a namorada, que não andava muito feliz com o relacionamento... Durante o cafezinho após os pratos, telefonou do seu celular, mesmo não tendo muitos créditos afinal, "amigo é pra essas coisas".
Continuou o dia indo ao trabalho, conversando pela necessidade com os colegas de trabalho, e por amizade com alguns deles. Ouviu histórias bizarras, de gente que tinha lido o jornal do dia durante a manhã, naquele horário em que exaustivamente esperava no dentista... Ao fim da jornada de trabalho, avisou o chefe que ia embora e esquivou-se de horas extras, dizendo estar com dor desde a consulta até o momento, e partiu de volta. Durante o ônibus, desligou a mente completamente de sua vida e fez uso dos olhos, que fotografaram cenas de todos os tipos, desde gente correndo pela rua, até uma pequena flor que nascia com esforço por entre o concreto rachado da calçada...
Entrou em casa e foi ao segundo banho do dia, acalmando seu ânimo e lembrando das obrigações do último dia da semana, o seguinte. Comeu um sanduíche de presunto com queijo enquanto programava algumas coisas e voltou ao quarto.
Alcançou o despertador e ajustou para o dia seguinte.

domingo, 1 de fevereiro de 2009

For the Love of God

O som que se canta não é de todo ouvido
Soa no crânio e se perde em meio ao significado
As letras não mais fazem sentido quando em ondas se propagam

Os graves mais leve ficaram
O agudo não dói aos ouvidos sensíveis
Palavras vazias enchem-se de sons ao sair da boca e se esvaziam num ouvido

Barulho
Apenas ruído
Somente um esforço perdido
Somente
Som