sábado, 3 de dezembro de 2011

Conviver sem o Cálculo


Conviver é sem dúvida uma coisa estranha.

Estranha porque a palavra indica um "ficar próximo". Conviver, "viver com". Mas se desmontamos a palavra assim, que nem a árvore se desmonta das folhas no outono e enxergamos sua estrutura óbvia e imprevisível, o "com" ainda é claro, porém o "viver"...

Bom, o viver é uma coisa estranha.

Estranha porque não é só aquilo que parece, de acordar, respirar, comer, dormir. É muito mais que isso! Não é apenas se informar, ler, conversar, ligar, se divertir. Ainda é mais que isso.
Talvez seja algo que também inclui a preguiça, a falta de ar, a fome, a insônia. Mas, deve ser mais que isso. Talvez também seja feita de esquecer, ficar quieto, ignorar, ficar sério. Acho que ainda é feita de mais do que isso.
Esse "resto" de coisas que compõem o viver são manifestações dos sentimentos e anseios do dia-a-dia, como o crescer das folhas e sua vigorosidade...

Mas sentimentos e anseios são coisas estranhas, pois nos deixam à mercê de qualquer vento leve que nos arranca as folhas e nos expõe o imo. Aí ficamos nus, com as mãos desesperadas evitando consequências. Apenas galhos balançando para não quebrar. E a origem desse par, muitas vezes desastroso, é tão profunda e constituinte quanto a própria existência física do tronco central. São nascidas desde a semente, compondo um tempero na vida, que se recheia de aventuras, medos, conquistas, decepções, felicidades, crescimentos, e outros galhos cheios de ramificações que cobrem o corpo pivô, e protegem e também enfeitam o todo.

Às vezes perdemos folhas, às vezes esquecemos galhos, às vezes lutamos tanto e por tanto tempo para conquistar um ramo importante, que quando o conquistamos, ele simplesmente apodrece e cai, abrindo um vazio gigantesco que mostra até um pouco d´alma, dando a impressão de que estamos vulneráveis e com uma parte morta dentro da gente.

Mas a parte que apodreceu já caiu não é? Então... fazer o que? Sofrer? É uma opção, mas que tal traçar novos ramos, com a mesma intenção e sentimentos que fizeram o galho antigo crescer, no espaço daquele, para preencher essa coisa estranha, que pode acabar sem mais nem menos, assim ó!?

Estranha mesmo essa coisa de dúvida do conviver...