segunda-feira, 28 de julho de 2008

Arquitetar, há de tentar

Funciona assim:
Um tijolo aqui.
Outro do lado, nessa distancia de cimento.
Depois põe mais um.
E outro, mas tem que ser tijolo duro, ein!
Olha o cimento!
Continua assim até ter uma fileira.
Daí você põe outro em cima do primeiro, deslocado de meio tijolo, pra “amarrar” a parede e ela não cair.

Repete isso pacientemente, com um ritmo pra não perder a seqüência, afinal você quer um muro para proteção, que dure de verdade!

Pronto, agora tem uma parede de

tijolo tijolo tijolo tijolo tijolo tijolo tijolo tijolo
olo tijolo tijolo tijolo tijolo tijolo tijolo tijolo ti
tijolo tijolo tijolo tijolo tijolo tijolo tijolo tijolo.

Aí reboca e pinta com cuidado, pra cumprir com a expectativa.
Espera secar e dá mais uma demão.
Ainda outra.
Se precisar, mais uma.
Reafirma a tinta quantas vezes precisar.
Prova que é suficiente, e para.

Pronto, agora sua parede está

pintada pintada pintada pintada pintada pintada
tada pintada pintada pintada pintada pintada pin
pintada pintada pintada pintada pintada pintada.


Através dela não passa vento, não passa água, não passa luz, não passa nem pensamento!

Daí você faz mais 3 paredes como essa, se fechando num quadrado, numa caixona sem tampa.
Se ainda tiver material e disposição para aumentar essa proteção, faz um telhado!

Agora tá lá dentro, protegido das coisas do mundo lá de fora.
Não vê mais nada de lá também, nem feio, nem bonito.
O ar poluído de poeira e frescor, violências e palavras fica isolado lá fora.
Não há mais troca de nada através desses muros erguidos, e nem o sol entra pelo telhado!!

Ufa! Que maravilha! Agora tá protegido! E dá certinho, não falta nem sobra material!

...

Tá tão protegido... tanto que nada chega a você.
Nenhuma pergunta,
nenhum sentimento,
nenhuma crítica,
nenhuma companhia,
nenhum cuidado,
nenhum amigo,
nem um nada.

Não vai ver o mundo. Cadê as janelas?
Não vai interagir com os outros. Cadê a sua varanda?
Não vai receber ninguém em sua casa. Cadê o jardim?
Não vai sair pro mundo. Cadê as portas?

Essa é a hora que se sente encurralado por você mesmo, inconseqüente arquiteto da obra.

Fica desesperado sem saber por que gritar, afinal o seu pranto não vai passar pela parede.
Perde as vontades de querer sair, não há mais material para bolar um plano, ou pra fazer qualquer coisa!
E não quer mais sentir, não quer mais comer, não quer mais nem arquitetar.


Percebe que está lá na casa
Dentro
comprimido
|| Deprimido ||


Lá dentro de uma casa fechada dessas, encosta numa parede com suas mãos bem espalmadas e fecha os olhos. Sente essa parede que você mesmo construiu.

Realiza que você é a sua ferramenta.

Então observa um tijolo de cada vez:

Vê que o tijolo mais duro ainda se esfarela se você quiser. E tirando um, os do redor ficam soltos. Começa a enxergar lá fora e já entra um arzinho! Se contenta com isso, e sabe que há mais coisas que um simples ventinho.

Percebe que o cimento é a sua capacidade de manter quaisquer das suas coisas unidas. Tão dura é a parede, quanto maior sua perseverança.

Aí sai e investe algum tempo em planejar um pouco as coisas, rabiscar, fazer uma planta, aperfeiçoar, saber de suas necessidades, dar atenção a você mesmo.

E gera uma mansão dos sonhos, que tem espaço pra todos os seus queridos numa festa sensacional chamada “sua vida”.

2 comentários:

Max disse...

Meu irmão Marcio ama Goethe. Por um "acaso" semana passada apareceu uma frase dele numa certa revista. Lia-se

"Trate as pessoas da forma como elas devem ser e você as ajudará a se tornarem aquilo que elas são capazes de ser."

Tem também um diálogo de um filme que eu gosto muito:

"M- Eu prometi que não ia deixar nada acontecer a ele.
D- Coisa engraçada de se prometer.
M- Por que?
D- Se você promete que nada vai acontecer com ele, então nada vai acontecer com ele.
(M faz cara de bobo pensando)"

É, as coisas sempre tem um propósito.

Renata Magalhães disse...

Moço, você escreve bem, hein??
No seu texto tem razão e emoção, um acelera e o outro freia, e fica tudo na medida certa! hehe...

Bj!