terça-feira, 7 de julho de 2009

Colheita

Como pode o céu o campo tocar?
Em sombras de nuvens alheias ao enfado
Nem ao menos ao coadunado do anil chegar
Espalhado e vivo, porém inanimado.

Ao ar desanima em não conseguir saltar
E morros que se flecham, quebram o cimo
Quando de distante ao alvo, pretendem delinear
Um entre, que no fim, se morde e morre em desatino

Por isso que olho e sinto que, do lado de lá
Abaixo do vento pelas planícies corredio
Há que saber que da margem de cá
Não há intento chuvoso ou sombrio

Das alturas não consegue a planta me atingir
Ou do chão esforço pouco da semente vejo
Irrigado por orvalho meu, não quis à muda omitir
Ou negar reluzente alcance de teu desejo.

2 comentários:

Rubia disse...

Muito bom esse poema. Bom mesmo...
Depois de escrever em prosa durante delta tempo, você voltou em grande estilo à poesia.
Outro dia ouvi um professor de literatura da UNB (poeta que se formou sozinho, sem nenhum estímulo familiar para a leitura, visto que, segundo ele, em sua casa não havia um livro sequer). Ele definiu a poesia algo como "o momento em profundidade". Falou que a poesia é algo que vem e não simplesmente pensado. Disse que, às vezes, ele ouve uma palavra e faz um poema inteiro só para que a palavra esteja lá.
Quando leio um poema seu, sinto que ele tem razão. É o congelamento de um instante para que se dê tempo aos espectadores entenderem em profundidade as matizes d'alma.
Beijo.

Ilana Kenne disse...

Conseigo ver as paisagens passando enquanto o carro se move...